Alexandre Felisberto assumiu a fazenda da família e queria produzir cafés especiais, mas lhe disseram que seria um hobby caro. Mas com seu melhor amigo Luiz ao seu lado, ele apostou mesmo assim. Juntos, eles choraram e comemoraram as boas e as más colheitas. E é a paixão pelos cafés especiais que motiva.
Depois de inúmeras conversas no WhatsApp na tela, nos encontramos
finalmente o cafeicultor Alexandre frente a frente em Andradas. A pequena cidade é lindamente cercada por colinas e montanhas verdes no estado de Minas Gerais. Alexander também trouxe toda a família; a esposa grávida e a filha de cinco anos. É claro que seu melhor amigo Luiz também deve estar lá com sua esposa e filha. Na verdade, os dois amigos são casados com as irmãs um do outro, e também com cunhados.
- Vamos te levar até a fazenda, mas primeiro temos que
comer em nosso restaurante favorito. Temos tradições gastronômicas muito orgulhosas aqui em Minas”, diz Alexandre. E a comida realmente não decepciona! Mas é o café especial que nos atrai aqui e que colocou a região no mapa.
Serpenteamos pela estrada da serra na caminhonete de Alexandre até a fazenda Fazenda Santa Bárbara, onde seu avô iniciou a produção de café em 1958. No topo avista-se o vale onde se estende uma exuberante plantação de café e alguns pequenas casas ao longe, emolduradas por densa mata atlântica. É uma visão selvagem e bela!
- Quando você produz cafés especiais, a área é muito importante – tanto a localização do terreno quanto o seu entorno. A vantagem que temos é que temos a sorte de estarmos localizados no pé de uma serra vulcânica, a Serra do Caracol – que também é cartão postal da cidade de Andradas, afirma.
Estava previsto que Alexander se tornasse um cafeicultor. O avô cuidava de leite e café, o pai passou para apenas café e quando assumiu já começou a farejar a ideia do café especial.
Eu descobri este mundo quando assumi
a produção. Queria melhorar a eficiência e a atividade e percebi que a minha propriedade tinha potencial para desenvolver cafés especiais. Já havia conversado com outros produtores e muitas vezes ouvi falar de pessoas que não tinham boas colheitas e que o café era ruim para beber. Mas na minha fazenda isso nunca aconteceu. Até agora nunca havíamos tentado melhorar o funcionamento, só fizemos o básico, mas mesmo assim a qualidade dos grãos e da bebida nunca diminuiu. Suspeitei que tínhamos condições de uma produção muito boas aqui.
No primeiro ano, a fazenda tornou-se associada a uma associação de produtores de café da região, e Alexander obteve uma amostra de café de qualidade.
-Para minha surpresa, atingindo 84 pontos na escala de avaliação de bebida sem ter feito nada para melhorar (cafés especiais devem pontuar acima de 80 pontos). Por exemplo, secamos o café da mesma forma que antes, um processo simples onde não tivemos muito cuidado, diz o agricultor.
- Pensei - vamos ver o que acontece se melhorarmos a operação, talvez isso também melhore ainda mais o café, diz ele.
O trabalho diário de Alexander era em um banco, onde cuidava de clientes agrícolas. Ele conheceu, portanto, muitos produtores de café ao longo dos anos, e perceberam que cada indivíduo tinha muito orgulho de sua colheita e muitos gostavam de participar de competições e garantir a produção de café de alta qualidade.
-Como vim de uma fazenda familiar, tive esse orgulho comigo. E com cafés especiais também pude agregar valor. A meu ver, os produtores ficam reféns dos preços, pois sobem e descem os preços do café cru. Em função de sermos o elo mais fraco da cadeia, constatamos que era possível agregar valor por meio dos cafés especiais. Ao produzir café de melhor qualidade, o agricultor pode ele próprio definir o preço do café fora do mercado comum. Não dependemos desse preço que sobe e desce. Não sabemos por que isso sobe e desce, não é algo que possamos planejar”, ressalta.
-Então quando melhoramos a qualidade do café, e vendemos com comércio direto através de nossos parceiros e lojas, conseguimos um preço mais estável. Isso torna a produção mais viável do ponto de vista econômico, diz Alexander
Os animais selvagens estão voltando
Mas agregar valor por meio da produção de cafés especiais tem seus desafios:
- As condições meteorológicas e as alterações climáticas são o maior desafio. Costumo dizer que temos uma “indústria ão céu aberto” e já passamos por muitos eventos climáticos como chuva de granizo e geada. Às vezes, esses eventos atrasaram a colheita e podem causar grandes danos. Choramos, ele admite.
Mas algo que não pode ser evitado é um ambiente bom e natural, acredita Alexander.
- Isso sim dá qualidade ao produto.
Os agricultores são os principias cuidadores
- Nós mesmos descobrimos isso. Tentamos gerir uma agricultura eficiente com o mínimo impacto possível no ambiente que nos rodeia. Nós vimos esse benefício dos últimos 5 a 10 anos. Entre outras coisas, cercamos o rio com a intenção de que ele se recupere depois de ser usado e poluído. Também regeneramos a floresta para que ela retorne ao seu estado original tanto quanto possível. O que é surpreendente é que após este período de recuperação notamos a presença de muitas espécies de animais silvestres. Ficamos particularmente surpresos ao ver um lobo (lobo guara), que está na lista do Brasil e em vias de extinção, diz ele.
- Também temos onças na região, lebres e um mar de espécies de aves que não eram vistas aqui há anos, afirma.
Nós mesmos podemos testemunhar isso quando estamos em um passeio pela fazenda. No fundo de uma fileira de pés de café, onde a floresta densa e exuberante logo toma conta, notamos uma pegada fresca no solo vermelho. - Tem pegadas de puma, sorri Alexander, e diz que não é a primeira vez que a veem. Logo depois, um tucano colorido voa bem sobre nossas cabeças. Os tucanos desempenham um papel importante na disseminação de sementes de palmeira na floresta tropical remanescente na costa atlântica do Brasil, mas desapareceram em muitos lugares.
Alexander também usa apenas fertilizante orgânico de seu próprio composto. - O café não é totalmente orgânico, mas usamos o mínimo de agrotóxicos possível e podamos o máximo possível, afirma.
Até agora, ele converteu 20% da sua produção em cafés especiais, mas está a caminho de aumentar significativamente esse número.
-Alcançar 100% de café desta qualidade é
muito difícil, mas pretendemos melhorar ao máximo a produção”, afirma o cafeicultor.
- Nosso objetivo é ter a melhor operação possível e vender nosso café com marca própria aqui no Brasil e através de nossos parceiros diretos. Também achamos importante oferecer rastreabilidade total de onde e como foi produzido e ter uma produção sustentável em toda a cadeia.
-Queremos também atingir mais consumidores, principalmente no Brasil, para que os próprios brasileiros possam tomar um café de alta qualidade.
Tradicionalmente, o café que consomem aqui no Brasil é uma mistura de grãos impuros. Gostaria que as pessoas descobrissem a alegria de tomar um café bom e de qualidade que produzimos e temos disponível”, ressalta
Alexander admite que ele próprio toma uma variedade de café que ele gosta particularmente
- Meu grão de café preferido é o Catuai amarelo. Eu gosto dele na torra média . É um café com notas claras de chocolate amargo e caramelo - e um café versátil que a maioria das pessoas gosta muito. Não é uma escolha muito exótica, mas é um café muito bom. É por isso que as pessoas gostam.
No entanto, ele também acha interessante testar novos sabores.
-A partir do próximo ano estarei testando uma nova- Arara. Isso será emocionante. É uma variedade de grão amarelo e temos grandes expectativas em relação a ela, finaliza o cafeicultor